O burnout não merece menção honrosa
Com frequência, sou bombardeada com a mesma pergunta:
“Como consigo encontrar tempo para viver sendo médica e mantendo uma rotina
intensa de dedicação profissional sempre buscando correr atrás de mais
conhecimento?”
Olhando minha jornada em retrospecto, gostaria que, desde o início da minha
formação em medicina, no início de 2015 quando ingressei na universidade, ninguém
tivesse me feito acreditar que a vida é uma corrida.
Ums história real na medicina
Hoje, aos 29 anos, no mês de setembro, em uma data tão afetiva — 11/09 — celebro minhas bodas de madeira (ou de ferro), marcando significativamente cinco anos de formada. Além disso, faço jus ao simbolismo dessas bodas: força, resistência, superação e raízes.
Acolho a jovem que, aos 18 anos, se dedicou arduamente aos estudos, morando em outra cidade e lutando pelos próprios sonhos. Afinal, só ao fazer as pazes comigo mesma e com minha jornada é que consigo transmitir a mensagem de paz que tanto prego e, acima de tudo, vivo.
Não há mérito algum em sustentar uma rotina exaustiva a ponto de sacrificar a própria saúde. Por isso, não vale a pena abrir mão de sono, descanso ou mesmo dos momentos de tédio — isso não é virtude. Aliás, meus maiores insights surgem exatamente em períodos sem tela, sem música de fundo, apenas desfrutando da minha própria companhia. Consequentemente, é nesse espaço de silêncio que tomo nota dos meus pensamentos e busco, de forma consciente, o autoconhecimento.
Os mitos da Medicina
Como educadora, jamais estimularia procrastinação, gestão inadequada do tempo ou
entrega a hábitos superficiais. Ser profissional envolve responsabilidade com horários,
compromissos e disciplina. Estudar, mesmo sem vontade, é o básico. Não negocie
com o despertador.
Mas aqui está o ponto: o mito do “médico rico” ainda ronda o imaginário coletivo, e
isso distorce o que realmente significa riqueza. Riqueza, para mim, é celebrar cada
pequena vitória com gentileza comigo mesma. É ser grata a cada superação enquanto
me preparo para a próxima etapa. É perceber que ambição não é defeito, desde que
caminhe de mãos dadas com a paz de consciência.
O corpo fala. Você escuta? Não posso falar de cuidado sem ser exemplo de
autocuidado. Educação verdadeira não se faz com palavras bonitas, mas com
coerência. O desafio é justamente esse: cuidar do outro sem esquecer de nós
mesmos. Amor também é cuidado. O amor é o solo fértil de onde nascem as melhores
sementes. Passar tempo de qualidade com família e amigos, isso sim, é riqueza.
Não existe sacerdócio na Medicina
A Medicina Que Acredito: Profissão, Vocação, Mas Nunca Sacerdócio
É preciso lembrar: horas de trabalho não são mercadoria. A medicina que acredito é profissão, é vocação – mas nunca sacerdócio. Em 2020 e 2021, atestei mais declarações de óbito do que jamais imaginei. Afinal, não ouvi ninguém expressar o desejo de ter trabalhado mais em seus últimos dias de vida.
Além disso, para além dos títulos, na vida adulta, não somos mais avaliados por boletins escolares. Não somos apenas nossos certificados, perfil no LinkedIn ou currículo Lattes. Por outro lado, a grandiosidade da vida não cabe em uma rotina engessada ou em um feed filtrado do Instagram.
E, sinceramente, eu ficaria bastante sem jeito ao sentar à mesa com médicos que só soubessem falar de medicina. Colegas e amizades de verdade se constroem na troca genuína, sem disputa de egos, na alegria de compartilhar conhecimento e tornar o dia a dia mais leve, mais humano.
Burnout na Medicina
Portanto, hoje compartilho com você os conselhos que eu não recebi. Sou Maria Carolina Neiva Mendonça, médica, educadora e eterna estudante da vida. Escrevo para lembrar a mim mesma – e a você – que cuidar de si também é parte elementar para quem almeja deixar algum legado de êxito profissional.
Fracassos são inevitáveis. Consequentemente, o que realmente nos diferencia é a forma como lidamos com os “nãos” da vida.