Mulher na Medicina: existe especialidade ideal?

Considerando a biologia feminina, ou de qualquer pessoa que menstrue, já deveríamos ter promovido uma ressignificação e verdadeira incorporação no conceito de equidade. Muitas crianças do sexo feminino, portanto, crescem educadas a buscar estímulos que as levem a performar feminilidade. Eu, por exemplo, cresci sendo, de certo modo, obrigada a brincar de boneca, brincar de casinha e a fazer ballet. Entretanto, não havia incentivo para tocar instrumentos musicais ou praticar atividades de autodefesa. Essas habilidades, assim, só fui buscar já adulta: aprendi bateria, também fiz aulas de karatê e percebi o quanto a educação molda escolhas.

 

Meu ponto aqui não é militar, mas trazer reflexões que partem de vivências pessoais e de muitas mulheres na medicina. A equidade de gênero deveria estar presente desde os processos seletivos, portanto, gestores poderiam randomizar entrevistas e avaliações, garantindo maior diversidade. Ainda que alguns insistam em rotular especialidades médicas como “de mulher” ou “de homem”, acredito que essa divisão não existe. Além disso, qualquer carreira deve ser entendida como espaço de escolha, livre de estereótipos.

A pesquisa do Afya Research Center mostrou que os homens trabalham, em média, mais horas semanais que as mulheres (54,3h contra 47,4h). Entretanto, essa diferença não explica a disparidade salarial: o valor da hora médica é de R$ 417 para homens, contra R$ 370 para mulheres, um gap de 11,4%. Entre especialistas, a desigualdade é ainda maior, chegando a 22,4%. Esses dados reforçam que, mesmo com igual ou maior qualificação, as médicas continuam enfrentando barreiras que limitam sua ascensão profissional e financeira.

Liberdade de escolha e avanços da ciência

Diante disso, posso afirmar, que  conheço uma quantidade considerável de mulheres médicas que, por escolha, dedicaram horas de plantão, mas decidiram, logo depois, passar pelo processo de congelamento de óvulos. Esse movimento lhes garante liberdade, entretanto, não é uma preocupação comum entre homens médicos. A medicina, assim, nos dá possibilidades inéditas, como fertilização in vitro e maior controle sobre o futuro reprodutivo. Por isso, é importante reconhecer que, mesmo com os avanços da ciência, o peso da decisão acaba recaindo, principalmente, sobre nós, mulheres.

Ressignificando oportunidades na medicina

Percebo que a ressignificação de oportunidades deve ser tratada desde a raiz, contudo, cada pessoa precisa entender que omitir-se também é um posicionamento. Finalmente, ao nos posicionarmos, podemos transformar e reconstruir ideias no imaginário social. Como mulher, médica e educadora, trago esses insights para estudantes e profissionais que estão tendo acesso a esse conteúdo para que ressignifiquem. Repensem. Reflitam. Busquem conhecimento, leiam mulheres, consumam conteúdos médicos de mulheres, incentivem carreiras de mulheres.

 

Sou Maria Carolina Neiva Mendonça, médica, educadora e eterna estudante da vida.
Escrevo para lembrar a mim mesma – e a você – que a vida não é uma corrida e que
nosso valor não deve ser medido apenas por resultados. Embaixadora do Medicineme.

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