Os dez pecados da Medicina
O médico britânico Richard Asher é considerado um dos maiores pensadores da medicina do século XX. Com uma escrita refinada e uma ironia afiada, Asher fez grandes contribuições para a medicina, como a descrição da síndrome de Munchausen e da loucura mixedematosa. Ele também alertou sobre as doenças que os próprios médicos poderiam causar e descreveu o interessante “paradoxo de Asher”. Um de seus textos mais famosos é sobre os pecados da medicina. Aqui estão os dez pecados que Asher descreveu, que se tornaram mais evidentes atualmente.
Os dez pecados da Medicina: “Paradoxo de Asher”.
Obscuridade
Primeiramente, temos que reconhecer que a comunicação ainda é um dos maiores problemas da relação médico pacientes.
Os médicos frequentemente usam jargões que complicam a comunicação com os pacientes, dificultando sua compreensão da própria doença. Entretanto, a clareza depende da determinação do médico em se fazer entender. Além disso, todos os ofícios possuem jargões específicos para evitar imprecisões, como na navegação e na engenharia. No entanto, a mistura de termos técnicos com linguagem comum, especialmente entre médicos de língua inglesa, pode tornar a comunicação realmente ininteligível. Assim, é crucial que os médicos equilibrem precisão técnica com clareza na comunicação.
Crueldade
Segundo Asher, as crueldades dos médicos incluem falar sem empatia sobre diagnósticos graves e omitir informações importantes. Também submetem os pacientes a exames e tratamentos desnecessários e dolorosos. A maior crueldade é submeter pessoas em estado terminal a procedimentos que só aumentam seu sofrimento.
Hiperespecialização
A hiperespecialização médica, embora necessária, fragmenta os cuidados ao paciente. Por isso, é essencial que cada pessoa tenha um médico generalista ou clínico de confiança. Esse médico assistente coordena os cuidados, consultando especialistas conforme necessário. Assim, evita-se que tratamentos se contradigam ou causem problemas. Além disso, o médico assistente assegura a continuidade e a integração do tratamento. Por fim, essa abordagem melhora a saúde do paciente e a eficácia do tratamento. É importante sabermos da integridade de um acompanhamento longitudinal.
Espanofilia
A espanofilia, conforme descrita por Asher, refere-se ao fascínio pelo raro. Isso é comum em várias fases da carreira médica e em especialidades específicas. Médicos muitas vezes focam em doenças raras, negligenciando diagnósticos comuns. Por exemplo, uma criança com dor de barriga geralmente tem verminose ou infecção intestinal simples, não doença inflamatória intestinal. Esse foco no raro pode levar a diagnósticos errôneos. Assim, é mais provável que sintomas sejam atípicos de uma doença comum do que típicos de uma rara. Portanto, médicos devem priorizar o comum antes do raro.
A tendência de achar que as novidades são sempre melhores leva ao uso excessivo de novos medicamentos e tecnologias, que nem sempre são necessários e muitas vezes custam caro.
Embora existam inovações úteis, o critério para aceitar novidades deveria ser muito mais rigoroso do que vemos atualmente.
Um dos meus professores costumava dizer: “Nunca seja o primeiro a prescrever um novo medicamento ou adotar um novo procedimento, mas também não seja o último.” A prudência é uma qualidade essencial para o médico
Os dez pecados da Medicina: “Paradoxo de Asher”.
Asher diferencia a preguiça física, que é a falha em realizar uma consulta adequada, da preguiça mental, que é aceitar informações sem questionamento crítico.
A expressão de Asher refere-se à falta de bom senso, crucial na medicina. Um médico sem bom senso pode recomendar tratamentos inadequados para pacientes com dificuldades econômicas.
A expressão de Asher refere-se à falta de bom senso, crucial na medicina. Um médico sem bom senso pode recomendar tratamentos inadequados para pacientes com dificuldades econômicas.
Além disso, o atendimento médico vai além da consulta inicial e prescrição de exames. Portanto, é vital revisar exames e medicamentos na consulta de retorno. Com isso, uma anamnese detalhada é essencial para entender a realidade do paciente. Assim, o médico deve prescrever tratamentos viáveis e ajudar o paciente a navegar pelo sistema de saúde. Além disso, acompanhar a evolução na consulta de retorno é fundamental. A função do médico é curar, controlar a doença ou diminuir o sofrimento.
A pressa é um novo pecado da medicina, causado pelo ritmo acelerado do mundo moderno. Tentamos impor essa urgência aos pacientes e suas doenças, mas não podemos apressar a cura do organismo. Acelerando demais, causamos danos aos pacientes. Além disso, a pressa na consulta é alimentada por fatores econômicos e culturais. O Código de Ética Médica afirma que o tempo de atendimento deve ser conforme a necessidade clínica do paciente. “Comedor de fila” não é ser médico. Se seu objetivo é enriquecer, busque outra área da medicina. Priorize sempre a saúde e bem-estar do paciente.
Asher destaca a importância da educação cortês no trato com pacientes e colegas. Além da educação formal, médicos devem se apresentar adequadamente e demonstrar boas maneiras. Pacientes, já fragilizados, necessitam de uma abordagem suave e acolhedora. A cortesia também é crucial nas relações com outros profissionais de saúde. Boas maneiras podem ser aprendidas, valorizando o currículo e melhorando as relações. Portanto, investir em cursos de etiqueta beneficia tanto médicos quanto pacientes.
Um médico cheio de certezas é perigoso. Quanto mais estudamos, mais percebemos o quanto não sabemos. Embora devamos ser otimistas, manter um grau de ceticismo é essencial. Certezas são raras na medicina; geralmente lidamos com probabilidades. Reconhecer incertezas ajuda a evitar ações precipitadas. Agir com parcimônia protege a segurança do paciente. Médicos são pecadores, mas podem ser perdoados se reconhecerem seus erros e trabalharem para corrigi-los. Arrogância, caracterizada pela falta de reconhecimento dos próprios erros, é o pecado capital da medicina.
Os dez pecados da Medicina: “Paradoxo de Asher”.
Raphaela N. Sagiorato | Faculdade Municipal Professor Franco | Embaixadora
Revisor: Ítalo Abreu
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