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Uso de máscaras: Existe Medicina baseada em evidências?

O assunto não é recente e ele é discutido na mídia desde epidemias dos séculos passado.

No final de fevereiro o  Conselho Federal de Medicina (CFM) enviou um ofício à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmando que não há justificativa, e para recomendação ou obrigatoriedade do uso de máscaras pela população geral como política pública de combate à pandemia de covid-19, baseado em uma revisão sistemática.

 

O artigo disse: "Máscaras não funcionam" , e agora?

A revisão sistemática da Cochrane Physical interventions to interrupt or reduce the spread of respiratory viruses”, considerada por alguns como a melhor ja vista, viralizou nos grupos de mensagens e nas redes sociais no Brasil. Sempre suspeite desses ruídos quando eles são alarmantes.

De fato a taxa de analfabetismo de profissionais médicos em metodologia cientifica e MBE é alta.

E essa dificuldade de entendimento sobre a qualidade das evidências atrapalha a compreensão das limitações de cada estudo.

Mas qual seria o melhor estudo para responder a uma pergunta científica específica como, por exemplo, se o uso de máscaras tem impacto na redução da transmissão doenças virais respiratórias?

O estudo sobre Máscaras

A análise examinou 12 estudos clínicos individuais que compararam o uso de máscaras cirúrgicas com a ausência delas. Para que os resultados possam ser aplicáveis à realidade, é necessário que estudos desse tipo sigam um controle rigoroso dos participantes. No entanto, os autores afirmam que a maioria desses estudos não estava adequada, com falhas no acompanhamento dos participantes e informações importantes faltando, como a qualidade das máscaras, a duração do uso, a adesão e o uso correto de adultos e crianças. Além disso, a maioria dos estudos foi realizada em diferentes períodos de alta e baixa circulação do vírus influenza.

As evidências de eficácia do uso de máscaras em nível populacional não podem ser interpretadas da mesma forma que as evidências obtidas em indivíduos ou em laboratórios. Um estudo recente que revisou mais de 20 estudos ecológicos mostrou que o uso de máscaras tem um impacto significativo em nível populacional. Nesse caso, a adesão ao uso de máscaras é uma variável importante que afeta a eficácia. Porém, os ensaios clínicos individuais não são o melhor método para avaliar a eficácia de intervenções em uma população.

O mais importante sobre o estudo de máscaras

É impossível controlar os vieses inerentes à seleção, o cegamento e a garantia de adesão nesse tipo de estudo. Portanto, nesses casos, ensaios clínicos de comunidade e até estudos ecológicos com modelos matemáticos bem conduzidos podem prover informações mais valiosas do que as geradas nos ensaios clínicos.

Não temos grandes estudos individuais sobre uso de mascaras e trials, pois esse fato pode ser considerado como principio de plausibilidade extrema. Veja esse artigo da USP: Clique aqui. Podcast

Analisando as evidências na literatura, fica claro que o uso de máscaras nunca será avaliado de fato através de ensaios clínicos individuais. Portanto, apesar da metodologia correta, a revisão da Cochrane não é a melhor forma de responder se as máscaras funcionam como medida de saúde pública. Por fim, é importante deixar claro que a ausência de evidências em ensaios clínicos individuais não é evidência de ausência do impacto do uso de máscaras.

 

O uso de máscara pode ser justificado pelo princípio da plausibilidade extrema. Este princípio se baseia em situações incontestáveis que devemos adotar a conduta. Seria anti-ético realizar um ensaio clínico de pacientes em uso de máscaras e outro grupo controle sem máscara em um ambiente fechado com virus respiratório e avaliar o desfecho, tendo em vista que é uma transmissão viral e contágio por gotículas. Outro exemplo de plausibilidade extrema seria ligar um vaso no centro cirúrgico de um paciente que esta sangrando.

Existe o risco de auto contaminação em caso levar  as mãos contaminadas ao rosto, porém esse risco é individual e o benefício da máscara é populacional quando avaliamos o custo benefício em epidemias de forma geral. As outras medidas não devem ser esquecidas. (Escute o episódio do podcast aqui)

Autores : Matheus Eugênio e Ítalo Abreu

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