Medicina: está realmente saturada?
Medicina: está realmente saturada?
Se você, estudante, conversar com algum médico ou residente sobre o futuro da carreira, provavelmente vai escutar que caminhamos para uma fatalística desvalorização da medicina, que o mercado está saturado, que o número de médicos está aumentando descontroladamente, e outras queixas extremamente comuns.
Mas será que nossa profissão está realmente fadada ao limbo do desprestígio? De que tipo de desvalorização tanto se queixam?
Investimento ou fazemos o que amamos?
A suposta valorização financeira levanta uma questão: onde mora a queixa? Médicos consideram insatisfatórios salários de cinco, dez ou quinze mil reais quando a “faculdade de Medicina” deixa de ser vocação e se torna um investimento. Além disso, a sociedade deve questionar se é justo um médico ganhar dez vezes mais que a maioria das outras profissões. De fato, o caminho para se tornar médico exige dedicação extrema, quase um sacerdócio.
Por outro lado, médicos enfrentam a pressão constante de serem o elo entre a vida e a morte. Essa responsabilidade eleva as taxas de transtornos psicológicos na profissão. Não apenas isso, a carga emocional pesa desde a formação até o exercício diário da medicina. Dessa forma, surge a dúvida: existe um preço que compense esse risco?
Além da remuneração, outros fatores influenciam a valorização médica. Atualmente, diferentes profissões concorrem na realização de procedimentos, como clínicas de estética e dentistas que oferecem procedimentos faciais. Dessa maneira, muitos pacientes escolhem opções mais baratas. Assim, um novo questionamento surge: afinal, a medicina está realmente saturada?
A realidade do Mundo e do Brasil
Há a questão do aumento dos cursos privados de Medicina, dentro das novas quase 14 mil novas vagas do curso desde 2021-2023 ; por que ganhar “pouco” se pago tão caro pela minha faculdade? Como deixar de aceitar qualquer emprego, por mais mal pago que seja, se tenho que pagar as dívidas com a faculdade?
Aponta-se também o avanço do capitalismo, com destaque para a telemedicina, com seus prós e contras (como não deixar de citar o caso do hospital em Fortaleza que tentou demitir todos os cardiologistas em troca da telemedicina?), a baixa remuneração por planos de saúde, etc.
Por fim, ainda levanta-se a questão da própria mentalidade governamental de que o médico tem que realmente ser “super”: trabalhar em locais insalubres e sem condições, lidando com os afagos de uma sociedade exposta às diversas morbidades e aceitar tudo calado porque, em tese, é muito bem remunerado
Viramos um país de especialistas
Em 2025, o Brasil está prestes a alcançar a marca de 600 mil médicos, o que representa um crescimento significativo. Atualmente, a maioria dos profissionais são especialistas, correspondendo a 62,5% dos médicos em atividade no país. Enquanto isso, os demais 37,5% são médicos generalistas, ou seja, sem titulação em nenhuma especialidade. Para o futuro, três cenários projetam que, em 2035, o Brasil poderá atingir entre 1 milhão e 1,3 milhão de médicos. Essas projeções foram feitas considerando a taxa de crescimento populacional observada pelo IBGE entre 2010 e 2022, bem como diferentes hipóteses sobre a abertura de cursos e vagas de medicina.
Além disso, o número total de registros de médicos titulados no país já chega a 495.716, um aumento de 84% em relação aos 268,2 mil registros existentes em 2012. Esse crescimento demonstra claramente o impacto da expansão da Residência Médica no Brasil, assim como a atuação da AMB e de suas filiadas – sociedades de especialidade responsáveis pela concessão de títulos de especialistas.
Medicina: está realmente saturada?
A expansão dos cursos de medicina no Brasil e o perfil dos estudantes
Segundo a Demografia Médica, de 2013 a 2022 foi registrada a maior expansão do ensino médico da história do Brasil, com uma grande expansão dos últimos 5 anos.
Em 2022 o Brasil contava com 389 escolas médicas que, juntas, ofereciam 41.805 vagas de graduação. Desse total, 23.287 novas vagas foram abertas de 2013 em diante. O aumento foi quase quatro vezes maior do que o registrado entre 2003 e 2012, quando foram autorizadas 5.990 vagas.
Uma das principais características da expansão da oferta de graduação médica nos últimos 20 anos no Brasil foi a abertura de vagas predominantemente no setor privado de educação.
Nesse período, enquanto as novas vagas de medicina em universidades públicas passaram de 5.917 em 2003 para 9.725 em 2022 (aumento de 64%), as vagas em escolas médicas do setor privado subiram de 7.001 para 32.080 (crescimento de 358%).
Existe uma desvalorização? Estamos saturados e perdidos.
Então, concluímos que a tal “desvalorização médica” é uma tendência evolutiva que passará por seus ônus e bônus, restando à classe médica parar de lamentos e unir-se, não tentando se sobressair ou se impor, mas alicerçar mudanças significativas na sociedade que possam, a partir daí, confirmar seu valor.
Ouça o podcast : o que pode acabar com sua carreira na Medicina
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